Há algum tempo que Danny Boyle estava nos devendo um filme digno de sua cinematografia.
Após ter feito filmes impactantes nos anos 90, Boyle parecia disposto a suavizar seus excessos estilísticos.
Assim, realizou duas obras que nada acrescentam ao seu currículo invejável.
Ganhou o Oscar com “Quem quer ser um Milionário?”.
Fez sucesso com 127 horas.
Mas os fãs mais ardorosos não se entusiasmaram com nenhum de suas produções anteriores.
Eis que agora o homem resolve apostar novamente no elemento surpresa e imagens esteticamente perfeitas para resgatar suas origens.
O roteiro tem incríveis reviravoltas que terminam de forma surpreendente.
Simon (James McAvoy) é um funcionário exemplar de uma casa de leilões.
A narração em off é feita pelo personagem que explica meticulosamente o que fazer para resguardar uma obra famosa em caso de assalto.
Coincidentemente, uma quadrilha assalta o leilão em que Simon trabalha.
Ele é ferido na cabeça e acorda dias depois do ocorrido.
A memória de Simon é afetada impedindo que ele não se lembre do que exatamente aconteceu.
Tudo isso poderia ser contornado se não tivesse aí um detalhe importante.
Simon é cúmplice da quadrilha e somente ele sabe o paradeiro do quadro roubado.
O líder do bando Franck (Vincent Cassel) resolve levá-lo a uma hipnoterapeuta que irá ajudá-lo a curar a amnésia dissociativa circunstancial.
Elizabeth (Rosario Dawson) é a voluptuosa terapeuta que tentará obter as informações do misterioso paciente.
A história toda adquire outro rumo quando se descobre que a própria Elizabeth tem seus interesses no assalto.
O roteiro trabalha todas as possibilidades, deixando o espectador à deriva.
A belíssima fotografia torna tudo ainda mais complexo, nos fazendo lembrar o talento de Boyle em truques visuais.
Apesar do clima noir e da fantástica trilha sonora, “Em Transe” peca pelo tom exagerado.
Tem-se a impressão de Boyle perdeu o controle do roteiro e se deixou levar pelos efeitos da câmera ágil.
Mas nem os deslizes são capazes de tornar “Em Transe” enfadonho.
O elenco em sintonia faz com que sintamos certa simpatia pelos seus destinos.
Rosario Dawson surpreende numa atuação primorosa.
James McAvoy está bem no papel do mocinho/bandido/sem memória.
E Vincent Cassel volta a encarnar o velho bandido sexy com quem muitas mulheres ficariam.
É bom perceber que o exímio talento Boyle continua presente.
Esperemos que ele consiga encontrar o caminho que o levou a ser considerado um dos diretores mais intensos
de sua geração.
Por enquanto, “Em Transe” coloca um ponto de interrogação na carreira de Boyle.
Será que ele ainda conseguirá recriar aquele clima underground presente em Trainspotting e Cova Rasa?
Aguardemos....
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