Garota da Vitrine, by Anand Tucker
A Garota da Vitrine é um desses filmes intimistas em que raramente Hollywood aposta suas cartas. O romance adaptado pelo cinema pelo seu próprio criador, Steve Martin, recebeu críticas favoráveis de algumas conhecidas publicações americanas.
É impressionante a sensibilidade do ator/escritor ao criar uma história onde o ponto forte é relacionamento afetivo entre pessoas que parecem viver num mundo silencioso.
Mirabelle Buttersfield (Claire Danes) é balconista na famosa loja Saks. Sua vida pessoal parece desprovida de movimento interno e é do balcão , vendendo luvas, que observa o brilho intenso de uma realidade tão diferente da sua. A sofisticação caótica de Los Angeles nada mais é do que apenas um brilho irreal que sai pela janela do quarto. Mirabelle contas as estrelas e espera por algo.
Numa lavanderia barulhenta, conhece Jeremy (Jason Schwartzman), jovem ansioso e completamente primitivo. Tem talento e não sabe bem como usá-lo. Se apaixona por Mirabell mas não sabe expressar com palavras o que sente.
Depois de algumas tentativas frustradas de aproximação, Mirabell encontra o que parece ser o amor da sua vida. Ray Porter (Steve Martin) é um homem com mais de cinqüenta anos, dotado de grande praticidade no que se refere a relacionamentos amorosos. Sempre educado, fino, elegante, oferece à moça da vitrine o que ela nunca teve: atenção.
Assim, Mirabell se joga de cabeça na relação mesmo sabendo que para Ray, o namoro é apenas casual, sem maiores pretensões. Ela se apaixona. Ele também, mas impõe condições para o amor, deixando claro que jamais poderá se entregar de corpo e alma a qualquer tipo de relação.
Estes dois mundos parecem divididos pela razão. Ela se entrega. Ele foge. Enquanto isso, Jeremy encontra a si mesmo e percebe que pode dar a Mirabell o que tanto precisa: paz e conforto.
“A garota da Vitrine” é um filme doce. Tem uma leveza tão rara que por alguns momentos me deixou com lágrimas nos olhos. A elaborada fotografia, o texto requintado, os diálogos profundos são tão belos que cheguei a me perguntar “será que foi ele mesmo quem escreveu essa maravilha?”.....
Pois é, eu que nunca gostei muito de Steve Martin, tive que reconhecer seu talento nesta obra aparentemente pequena, mas que no decorrer de minutos, se mostra singela e real.
Assim, é fácil reconhecer a dificuldade em se viver corajosamente nestes tempos modernos, onde todo mundo parece ter medo de ir mais a fundo.
Mirabell descobre mais tarde, que merece muito mais do que Ray lhe oferece. Jeremy dar um rumo à sua própria vida e parte em busca do seu grande amor. Ray, o homem dotado de grande habilidade intelectual, mas pouco conhecedor dos segredos do coração, reconhece , enfim, que não se pode controlar as emoções.
E para não dizer que tudo é perfeito, a trilha bem que poderia ser menos imponente, em alguns momentos seria melhor usar algo mais suave.
A Garota da Vitrine merece quatro estrelas e pelo menos aos meus olhos, é uma jóia digna de ser vista e revista algumas vezes.
Ah, e quem espera ver Steve Martin usando seus trejeitos cômicos, esqueça! Ele está completamente silencioso, quase que dialogando somente com o olhar....deixando claro que tem muito mais para dar ao cinema do que apenas papéis idiotas.
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