Engana-se quem imagina que “Nebraska” seja
um filme intelectualizado.
Pelo contrário, o tema é algo banal que faz
parte de todos nós.
Como envelhecer com dignidade, sem perder a
identidade e o que se construiu ao longo da vida?
Esse é o dilema do personagem central, um
homem com seus oitenta anos, que parece já não ter forças para seguir adiante.
Woody Grant (Bruce Dern) é um senhor com
problemas de memória.
Inusitadamente, resolve cruzar o Estado
para receber o que acredita ser um prêmio de um milhão de dólares enviado por
uma propaganda oportunista.
Todo mundo sabe que tratar-se de balela.
Mas o homem insiste em seguir viagem para
pegar algo que lhe pertence a todo
custo.
Ninguém
dá muito crédito, até que um dos seus filhos David (Will Forte) resolve
ajudar o pai a realizar o tal esperado sonho.
Contra tudo e contra todos, David enxerga
na viagem uma possibilidade de firmar laços com a figura paterna tão cheia de
mistérios e ausências.
Tudo isso será confrontado com a chegada à
pequena cidade onde Woody cresceu, quando irá revelar para a enorme família que
ganhou um milhão de dólares.
Logo o alvoroço está lançado e todos
comemoram a novidade calculando o que cada um poderá lucrar com isso.
Apesar das agruras do envelhecimento
brutal, somos confrontados com as limitações da idade de uma forma bem natural
e bem humorada.
Uma das responsáveis pelo humor presente na
trama é a esposa de Woody (June Squibb) uma velhinha durona que usa a língua
afiada para colocar todos no seu devido lugar.
A presença dela é garantia de gargalhadas
nervosas, pois apesar de engraçadas, não deixa de ser triste a forma como
agride o orgulho do marido relembrando seus
fracassos e erros.
Alexander Payne realizou uma obra de
pequenas ambições, mas que se torna grandiosa ao longo dos 115 minutos.
Seu mérito é mostrar um road movie em preto
& branco repleto de uma realidade fotográfica magnífica.
A fotografia acaba tornando-se parte da
narrativa de uma forma muito especial.
O roteiro apresenta uma história repleta de
ternura, no qual vemos como um homem perdeu-se de si mesmo ao longo da vida.
Aliado ao tema instigante, somos agraciados
com uma irrepreensível interpretação de
Bruce Dern.
June Squibb também merece crédito por
tornar sua barulhenta personagem num ser repleto de lembranças poderosas.
“Nebraska” firma a carreira de um diretor
que sabe filmar as agruras humanas sem clichês.
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