Somente agora consegui analisar friamente todas as nuances do ultimo
projeto de Lars Von Trier.
Fiquei chocada com as diversas
possibilidades exploradas pela personagem principal, Joe.
Uma mulher que busca preencher o vazio com
um ardor sexual fora dos limites.
Joe usa o sexo para descarregar suas neuroses.
Mas é óbvio que seu comportamento obsessivo
reflete um profundo medo do amor, o medo de aproximação que aniquila tudo.
Aniquilação
Poder
Perigo.
O amor
nos torna frágeis mortais.
Daí o pavor de Joe em se sentir invadida
sentimentalmente.
Mas será só isso?
A personagem simplesmente não parece se
importar com a dor alheia.
Vê-se isso na cena em que ela é humilhada
por Uma Thurman à beira do precipício.
Logo em seguida surge a obsessão por Jerome (Shia Lebaouf),
um sujeito limitado, troglodita, que lhe tirou a virgindade sem nenhuma poesia.
Joe se apaixona ou pensa estar apaixonada e
faz de Jerome um alvo amoroso.
Logo o fim mostra-se inescapável.
Joe se desespera por não sentir nada.
O desejo carnal desaparece.
Joe retorna à sua incessante busca por
prazer.
Então, percebemos o quanto a personagem é refém do sexo.
Joe não ama ninguém.
Nem poderia.
Mas tb não é totalmente livre.
O sexo lhe aprisionou de uma forma quase
doentia.
A satisfação sexual é substituída pela dor
de muitas chicotadas.
Mas nada parece lhe restituir a auto-
estima.
Ao meu ver o sexo brutal parece uma forma
de açoitar a si mesma.
Culpada por sentir prazer, Joe passa o
filme inteiro se dizendo pária da sociedade.
O capítulo I é magnífico.
Ao meu ver, dispensaria o capítulo II.
Lars Von Trier poderia ter terminado seu
filme aqui e já teria criado uma obra prima poderosa.
Mas quis ir além.
O capítulo II retorna com Joe tentando
reencontrar o encantamento sexual.
A atriz jovem é substituída por Charlotte
Gainsbourg já madura.
Essa mudança brusca faz com que o filme
perca o ritmo.
Falta-lhe a juventude exuberante de Stacy
Martin.
Mas Gainsbourg é tão boa atriz que logo nos
faz esquecer de tal detalhe.
Somos deparados com uma mudança de ritmo
que termina por mutilar o fechamento.
O papo filosófico cansa.
Uma das poucas cenas ainda capazes de nos
chocar, é quando Joe chama os negros
para fazer sexo.
No quarto de hotel, somos confrontados com
a pujança física dos dois homens e a fragilidade amedrontada de Joe.
Foi aí que percebi a fraqueza da
personagem.
Joe usa o sexo para se defender.
Mas no fundo, ela é presa fácil das
limitações impostas por uma sociedade conservadora.
Depois disso, Joe só se flagela com culpa e
discursos repetidos.
Perde-se o alcance da obra.
Tenho a impressão que Trier não sabia mais
o que fazer e resolveu terminar com tudo de forma bem indolor.
Conseguiu.
O fim do capítulo II é literalmente um tiro
no pé.
Triste e confuso, a história perde a força.
Mesmo assim, não dá pra negar que
Ninfomaníaca é um dos melhores filmes do cineasta.
Mesmo que o Capítulo II seja morno e tente
se redimir da culpa, impossível negar
a sua
importância no fechamento do projeto.
Um marco cinematográfico.
Quase posso apostar que Cannes se morde por
não poder aplaudir o implicante Lars Von Trier.
Muito mais excitante que todos os 50
milhões de tons de todas as cores.
Ninfomaníaca disseca a alma feminina.
Sensacional....
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