"Dois dias, uma noite" é um filme para quem tem paciência.
Aqui não há tiroteios, sequestros relâmpagos.
Não tem sexo abusivo, nem trilha pop.
Nada de gracejos ou reviravoltas sensacionais.
Os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne realizaram uma obra contida, porém, profunda sobre o desemprego, a solidão e a desesperança.
Cá entre nós, não são temas muito em moda hoje em dia.
A mulherada tá mais interessada em heroínas que são humilhadas e devoradas pelos parceiros com chicote e depravações diversas.
Quem irá querer ver de tão perto uma dor tão próxima e possível de acontecer com qualquer um de nós?
“Dois dias, uma noite” aflige quem vive no mundo real.
Sandra (Marion Cotillard) volta ao trabalho após viver uma crise depressiva.
Seu mundo começa a ruir ao ser informada de que a empresa encontra-se em contenção de despesa, portanto, sua permanência se dará somente se os outros funcionários aceitarem abrir mão de um tão aguardado bônus.
Sandra tem dois dias para reverter o quadro, para isso terá que pedir pessoalmente a cada um dos colegas de trabalho que recusem o bônus para que ela se mantenha no emprego.
É realmente constrangedor vê-la batendo de porta em porta implorando para que todos compreendam suas necessidades.
Mais triste ainda é ouvir as desculpas dadas por quem prefere receber o desejado dinheiro.
Eu realmente fiquei muito incomodada ao perceber a mediocridade, avareza e ambição do qual somos vítimas.
Como desistir daquela reforma, da tv de 60 polegadas e de tantas outras obrigações por causa da necessidade de outra pessoa?
Fácil julgar, difícil agir.
Toda essa odisseia de sofrimento é interpretada com extremo profissionalismo por Marion Cotillard.
Sua indicação ao Oscar só vem confirmar sua merecida ascensão artística.
Cotillard está sensacional como a mulher triste e amarga, vivendo à beira de um abismo depressivo.
“Dois dias, uma noite” retrata a crise econômica atual de forma absolutamente verossímil.
Estranhamente, combinou com o momento complicado pelo qual o nosso país atravessa.
A narrativa segue o vai-e-vem de Sandra em busca de uma solução, sem apelar para uma trilha grandiosa ou malabarismo da câmera.
A saga de Sandra termina por nos fazer compreender a difícil arte de exercer a compaixão e a solidariedade.
Um filme bastante perturbador e grandioso em toda sua simplicidade.
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