Quem diria que um filme russo tivesse a ousadia de cutucar o que tantos países fingem não ver?
O mérito todo é do roteirista e diretor Andrey Zvyagintsev que teve a coragem de mostrar claramente toda a corrupção e desmandos políticos que assolam o seu país.
“Leviatã” descreve a derrota do homem perante as leis absurdas e arbitrárias que terminam por causar sua completa ruína.
Kolia é um mecânico meio rude e amargo, casado e pai de um adolescente em crise.
Ele é pressionado pelo prefeito inescrupuloso Vadim a abdicar de suas terras herdadas da família.
O prefeito quer fazer um empreendimento e não mede esforços para conseguir expulsar a família do local.
Kolia conta com a ajuda de um amigo advogado Dmitri, que diz ter provas concretas das falcatruas comandadas pelo grupo local.
Ameaças, chantagens, fazem parte dos truques usados pelo ousado advogado, que logo verá tudo ruir ao se envolver amorosamente com a mulher do melhor amigo.
Kolia, desiludido e arrasado, chega ao fundo do poço ao perder a fé numa amizade, que lhe dava a esperança de reverter as injustiças cometidas pela prefeitura.
A descoberta da traição irá render uma reviravolta incrível ao filme, fazendo com que a justiça mostre-se ainda mais implacável.
Dizem que o governo russo ficou bastante irritado com o conteúdo político contido na película.
Uma das cenas mostra um churrasco onde os amigos de Kolia praticam tiro ao alvo usando figuras conhecidas da história russa, vemos um dos atiradores brincando que usarão as imagens dos líderes modernos quando os mesmos tiverem um pouco mais de perspectiva histórica.
A ironia deve ter acertado em cheio o tão manipulador Putin.
Mas, além de cutucar as feridas expostas do próprio país, Zvyagintsev consegue desnudar os absurdos cometidos contra cidadãos frágeis diante de uma ditadura.
E para calar a boca dos detratores do filme, “Leviatã” foi premiado em Cannes com o melhor roteiro e levou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Diante de tantos prêmios, obviamente que o governo russo se viu obrigado a autorizar sua exibição com algumas restrições.
“Leviatã” concorre ao Oscar de filme estrangeiro já como favorito.
O roteiro bem desenvolvido mostra claramente todos os abusos de poder e não poupa ninguém.
Os atores comandam tudo com extrema competência, tendo à frente o expressivo ator Aleksey Serebryakov.
A fotografia exuberante mostra uma paisagem meio apocalíptica, destruída, cercada de barcos abandonados e um esqueleto de baleia.
Andrey Zvyagintsev acertou ao expor a atual decadência moral e política que assola a velha Rússia.
Um filme assustadoramente real e amargo.
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