Pra quem não sabe, Charlotte Rampling também concorre aos
prêmios da academia.
Pra quem não sabe, a dama britânica foi uma das mais belas
atrizes nos agitados anos 70.
Pra quem não sabe, Rampling sempre conseguiu unir talento e
beleza com extrema inteligência.
A beleza quase felina embalou muitos devaneios românticos e
intensos numa época não tão distante.
Agora uma senhora respeitável, a britânica recebe a primeira
indicação ao Oscar.
Obviamente que as chances são quase nulas, é quase
impossível a Academia descer do pedestal e premiar um ícone dono de estilo tão
peculiar.
Até porque não interessa a eles alavancar a carreira de quem
não faz parte da famosa “panelinha” hollywoodiana.
Ainda bem que nós, amantes do bom e velho cinema, não
precisamos de prêmios pra reconhecer um autêntico talento.
“45 anos” marca o retorno de dois atores que dispensam
maiores comentários.
É de se lamentar que o grande público não esteja muito
interessado em se aprofundar em algo que esteja tão longe dos grandes estúdios.
Mas, isso não faz grande diferença na carreira consolidada
de ambos.
O diretor Andrew Haigh conseguiu extrair uma interpretação
que chega ao apogeu.
Tudo com muito bom gosto e muita delicadeza, usando
lentamente um roteiro que trabalha as nuances do relacionamento amoroso, como
se filmasse um ópera de costumes.
O casal Mercer se preparam pra festejar 45 anos de um
casamento de sucesso.
Tudo parecia caminhar para uma festa harmoniosa até que
Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que encontraram o corpo de sua antiga
namorada Katya.
Detalhe, Katya desapareceu nos alpes suíços há 50 anos e o
seu corpo encontra-se intacto no frescor dos seus vinte e poucos anos.
A descoberta da perda de Katya transtorna um casamento
aparentemente perfeito.
Absolutamente abalado, Geoff parece se desconectar da
realidade e começa a viver intensamente as lembranças do velho amor.
Essa revelação faz com que Kate (Charlotte Rampling)
descubra uma outra faceta do marido, criando uma ruptura na aparente
normalidade e rotina que existia antes.
Kate, sempre tão forte e centrada, parece balançar a cada
descoberta da intensa vida amorosa de Geoff.
E Geoff não consegue ocultar seus verdadeiros sentimentos em
relação à ex-namorada.
O impacto fulminante da morte de Katya cai feito uma bomba,
criando um confronto que parece inevitável.
Essa estimulante história emoldura o que pode ser o fim de
um casamento ou apenas as mudanças que poderão vir com o clímax final.
Andrew Haigh optou por fazer de sua película um retrato de
uma vida a dois na tão pacata velhice, mostrando que nem sempre estamos
preparados pra encarar as verdades que o outro oculta.
É realmente assustador imaginar que até mesmo uma relação
tão madura possa vir a ruir por causa do ciúme e da desconfiança.
O que vemos em seguida é a luta de Kate pra manter seu casamento
em pé, enquanto Geoff procura, sem sucesso, não ferir a companheira.
A odisseia romântica tem como cúmplice uma trilha
absolutamente deliciosa, ou seja, as músicas que o casal sempre dançou durante
a vida a dois, formando uma lembrança impactante com a realidade atual.
Charlotte Rampling e Tom Courtenay entregam um trabalho irrepreensível.
Não foi a toa que foram premiados no Festival de Berlim.
“45 anos” nos presenteia com astros de primeira grandeza e
com um final que parece sinalizar pra algo mais além.
Filme pra ase assistir no aconchego de um abraço.
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